Trabalho.
Tema: Sociologia alemã.
Primeira
Questão
No texto Comunidade e Sociedade como entidades
típico-ideais Ferdinand Tönnies ressalta logo no início do texto que as
vontades humanas possuem relações múltiplas entre si. Cada uma dessas relações
são também ações que podem ser positivas ou negativas, mas são essencialmente
recíprocas, ou seja, exercidas por uma parte e consequentemente recebidas ou aceitas
pela outra. Contudo, Tönnies debruça-se
exclusivamente sobre o estudo das relações positivas no referido texto. Logo no
início do texto o autor define o termo associação como sendo um grupo formado
por relação positiva, enquanto ser ou objeto que age de uma maneira homogênea
para dentro ou para fora.
A associação está
entrelaçada tanto a essência da comunidade quanto ao conceito da sociedade pois
em ambas as relações entre indivíduos se faz presente e necessária, ainda que de
maneiras distintas. A vida em comunidade remete-nos à ideia de confiança,
intimidade. Em contrapartida, a sociedade é o que é público, é o mundo e soa
como misteriosa, já que o homem se encontra em comunidade desde o nascimento.
Porém, na sociedade, formada por indivíduos independentes uns dos outros,
entra-se “como em terra estrangeira”.
Há uma tendência a
valorização da vida no campo porque nela a comunidade é mais forte e carrega
naturalmente a característica de um organismo vivo, além de ser compreendida
como durável e verdadeira, enquanto a sociedade é passageira, aparente e
funciona mecanicamente.
Em teoria da
comunidade, destacam-se, de acordo com Tönnies, algumas associações considerada
recíprocas e imediatas: a relação entre mãe e filho, entre homem e mulher
enquanto esposos e a relação entre irmãos e irmãs. De acordo com o autor,
quanto menos os homens ficarem em contato uns com os outros, mais se
comportarão como sujeitos livres dependentes de suas próprias vontades, ainda
que estejam em comunidade. No entanto, ressalta que para a formação da
individualidade existe alguma vontade comum, que pode ser o espírito de família ou algo semelhante a ele. Enquanto
vontade própria de uma comunidade, deve haver a compreensão, ou seja,
sentimentos recíprocos associados que representa a força social a associar os
homens enquanto membros de um todo.
As raízes de todas as
relações (associações) são compostas primeiramente pelos laços de sangue, em
segundo lugar, pela aproximação dos indivíduos no espaço e finalmente na
aproximação espiritual entre eles. A língua é um fator importante, pois
aproxima e une os sentimentos humanos e possibilita a formação de grupos. A
partir desses grupos e suas modificaçoes, formam-se os complexos determinados
pelo solo: país, província e aldeia. A cidade, por sua vez, desenvolve-se e
encontra seu acabamento num espírito comum que lhe mantém a coesão. É nela que
se formam a associação do trabalho, a corporação e a comunidde religiosa, que é, segundo Tönnies, a última e mais alta manifestação da qual
a ideia de comunidade é capaz. As
diferentes formações aqui expostas, provêm da família.
Em contrapartida ao que
entende-se por comunidade, e de acordo com a teoria da sociedade, esta última é
definida pelo referido autor como um grupo de homens que vivendo próximos uns
aos outros, como na comunidade, não estão organicamente unidos, mas sim
organicamente separados, apesar de toda ligação que há entre eles. Na
sociedade, há a predominância da individualidade, vive-se em constante estado de tensão com relação aos
outros e as interações humanas são baseadas principalmente na troca, de modo
que ninguém deseja conceder algo ao outro, a não ser em troca de alguma
retribuição equivalente à sua concessão. As ações de doação e do recebimento
devem conter implicitamente uma vontade social, de modo que ambas devam
coincidir no tempo. Na sociedade, não existe bem comum.
A vontade comum
expressa na troca, na medida em que esta última é considerada como um ato
social, chama-se contrato, resultante
de vontades divergentes que se cruzam em algum ponto. Cada troca realizada na
sociedade é considerda como geradora de obrigação. A capacidade de determinada
pessoa em concluir contratos e obrigações, faz com que possa ser considerada
objetiva, na medida em que a sociedade parece participar dela e
consequentemente confirmar nela sua existência. Assim, ela se torna sujeito da
sociedade. Sendo que cada pessoa busca na sociedade sua própria vantagem, a
relação de todos para com todos pode ser compreendida, ainda que fora de cada
contrato ou convenção, como uma hostilidade ou como uma guerra latente.
Compradores e vendedores situam-se sempre e tal maneira que cada um deseja
obter o máximo do bem do outro, com o mínimo de prejuízo possível. Por fim, a
perda de um é ao mesmo tempo o ganho do outro. Isso é a concorrência geral, que
ocorre em diversos domínios, mas mais claramente no comércio e
consequentemente, na cidade grande, onde nota-se a intensificação do comércio.
Segunda
Questão
A cultura moderna
desenvolve-se rumo a preponderância do objetivo sobre o subjetivo, enquanto o
desenvolvimento espiritual dos sujeitos se dá de forma lenta ou desigual, quando
comparado ao da cultura objetiva. A divisão do trabalho, por sua vez, exige do
singular uma realização unilateral, atrofiando a personalidade do indivíduo,
que encontra-se cada vez mais incapacitado de se sobrepor à cultura objetiva.
Em meio a sociedade
moderna e a divisão do trabalho, a subjetividade deu lugar a objetividade. A
cultura individual foi atrofiada mediante a hipertrofia da cultura
objetiva. O indivíduo da grande cidade que é tipicamente voltada para
um caráter de diposição desigual entre as culturas, tornou-se apenas uma
partícula da organização gigantesca que gradualmente lhe subtraiu espiritualidades
e valores. Assim, o espírito tornou-se impessoal e a personalidade não teve
forças para se contrapor a isso.
O dinheiro, que segundo
Georg Simmel pode ser considerado como o “deus da modernidade”, rege todos os
trâmites da cidade grande com sua superficialidade característica. Além disso,
seria o responsável por ter transformado
tudo em abstração, de modo que as pessoas comprem e comparem coisas de acordo
com a lógica contábil enquanto estabelecem relações superficiais entre si, visando
sempre o interesse próprio. Aqui, cada indivíduo pode ser considerado comprador
e comerciante.
A vida na cidade
funciona como uma máquina, onde os indivíduos são responsáveis por fazê-la
funcionar, já que todos estão imersos
nesse sistema de trocas, de divisão do trabalho e vivem de acordo com o
relógio, pois a técnica da vida na
cidade grande não é concebível sem que todas as atividades tenham sido
ordenadas em um esquema temporal fixo.
Imersos num sistema
essencialmente racional, objetivo, contábil, pontual e técnico os indivíduos,
cujo espírito não consegue sobrepor-se às características do espaço, tornam-se
também racionais, objetivos, contábeis, pontuais e técnicos. Dessa forma, seus
nervos, extremamente estimulados pelo meio, tendem a não reagirem mais de forma
adequada a estímulos do meio, configurando por fim o que Simmel chamou de
“caráter blasé”, fenômeno anímico
reservado de modo incondicional à cidade grande.
Terceira
Questão
De acordo com Gerog Simmel,
o caráter blasé é um fenômeno anímico
reservado principalmente à cidade grande e surge inicialmente como consequência
da pressão do meio sobre os estímulos nervosos, a partir dos quais parece
provir também a intensificação da intelectualidade. Há duas situações fisiológicas
que podem contribuir para o caráter blasé:
uma vida desmedida de prazeres e o estímulo das impressões inofensivas que
mediante a rapidez de sua mudança, extraem dos nervos sua força. Assim, a incapacidade de reagir aos
novos estímulos com o montante adequado de energia pode ser definida como
caráter blasé, que, segundo Simmel,
atinge todo filho da cidade grande por esta última exigir tanto de seus
estímulos que o indivíduo torna-se incapaz de responder adequadamente a eles. Diante da atitude blasé, o indivíduo percebe o significado e o valor das coisas como
nulos, ou seja, não se atem a pequenas distinções, torna-se indiferente. Essa
disposição anímica é um reflexo da economia monetária na medida em que o
dinheiro compensa de modo igual toda a pluralidade das coisas, exprime todas as
distinções qualitativas entre elas mediante o fator quantitativo e consequentemente
corrói o núcleo das coisas e sua imcomparabilidade. Logo, a cidade grande,
enquanto centro de circulação de dinheiro, é também onde o caráter blasé impera absoluto.
Em suma, enquanto os
habitantes das grandes cidades são pressionados pelo ambiente a estimularem ao
máximo seus nervos, consequentemente tornado-os incapazes de responderem
adequadamente a estímulos, há a intensa presença da economia social. Esses
fatores comprimem homens e coisas, fazem com que os nervos acomodem-se aos
conteúdos e à forma da vida na cidade grande, valorizando certas naturezas sob
o preço de desvalorizar o mundo objetivo, culminando no que Simmel chamou de
atitude blasé.
Quarta
Questão
De acordo com Simmel, a
forma estrangeiro condiz com alguém que fixo em determinado raio espacial, é
considerado análogo ao espaço devido a transfronteirização que carrega consigo.
Possui uma característica espacial daquele que trafega. Em outras palavras, o
estrangeiro é aquele que estando em determinado local não pertence a ele e suas
qualidades não provém dele e nem nele andentram. É o estranho, um outro, não
proprietário do solo. Seu caráter simbólico parece aproxima-lo do comércio, já
que apenas o comércio permite combinações ilimitadas e propõe maior
acolhemimento do que a produção primária. Simmel acrescenta ainda que a
história dos judeus europeus é um exemplo clássico deste processo onde
estrangeiros trabalham no comércio.
Ainda que membro de
determinado grupo, o estrangeiro é considerado como alguém de fora. Assim, as
relações se dão por um certo distanciamento pois os demais membros do grupo
levam em consideração o fato de o estrangeiro ser também membro de outro determinando
grupo estranho a eles. Portanto, os contatos para com o estrangeiro são
estreitos e remotos, fruto da atribuição que se faz a referida forma
(estrangeiro) como absolutamente móvel e não vinculada organicamente a nada e a
ninguém, ainda que possa manter contato específico com os demais.
O estrangeiro, sendo o
estranho ao grupo, é visto pelos outros como um não pertencente, ainda que seja
membro orgânico do grupo. O autor ressalta também, que por estar em posição de
proximidade ao mesmo tempo que de distanciamento, o estrangeiro pode ser o mais
apto a analisar e julgar determinada situação. É importante ressaltar também,
que em situações conflitantes a forma estrangeiro surge como uma problemática
em potencial, por ser caracterizada como estranha ao grupo e consequentemente
contribuir para a construção social do estrangeiro como inimigo.
Referências
bibliográficas
SIMMEL, Georg. As
grandes cidades e a vida do espírito [orig. al. 1903]. Trad. L. Waizbort.
Mana, vol.11 no.2. Rio de Janeiro. 2005.
SIMMEL, Georg. “O estrangeiro”. In: Soziologie. Untersuchungen
über die Formen der Vergesellschaftung (Sociologia. Estudos sobre as formas
de sociação). Berlim: Duncker e Humblot Editores, 1908.
TÖNNIES, Ferdinand. “Comunidade e Sociedade como
entidades típico-ideais” . In: FERNANDES, Florestan. Comunidade e Sociedade. São Paulo: Companhia Editorial Nacional, 1973.
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