sábado, 2 de março de 2013

Trabalho de Sociologia: Simmel


Trabalho. Tema: Sociologia alemã.


Primeira Questão

No texto Comunidade e Sociedade como entidades típico-ideais Ferdinand Tönnies ressalta logo no início do texto que as vontades humanas possuem relações múltiplas entre si. Cada uma dessas relações são também ações que podem ser positivas ou negativas, mas são essencialmente recíprocas, ou seja, exercidas por uma parte e consequentemente recebidas ou aceitas pela outra.  Contudo, Tönnies debruça-se exclusivamente sobre o estudo das relações positivas no referido texto. Logo no início do texto o autor define o termo associação como sendo um grupo formado por relação positiva, enquanto ser ou objeto que age de uma maneira homogênea para dentro ou para fora.
A associação está entrelaçada tanto a essência da comunidade quanto ao conceito da sociedade pois em ambas as relações entre indivíduos se faz presente e necessária, ainda que de maneiras distintas. A vida em comunidade remete-nos à ideia de confiança, intimidade. Em contrapartida, a sociedade é o que é público, é o mundo e soa como misteriosa, já que o homem se encontra em comunidade desde o nascimento. Porém, na sociedade, formada por indivíduos independentes uns dos outros, entra-se “como em terra estrangeira”.
Há uma tendência a valorização da vida no campo porque nela a comunidade é mais forte e carrega naturalmente a característica de um organismo vivo, além de ser compreendida como durável e verdadeira, enquanto a sociedade é passageira, aparente e funciona mecanicamente.
Em teoria da comunidade, destacam-se, de acordo com Tönnies, algumas associações considerada recíprocas e imediatas: a relação entre mãe e filho, entre homem e mulher enquanto esposos e a relação entre irmãos e irmãs. De acordo com o autor, quanto menos os homens ficarem em contato uns com os outros, mais se comportarão como sujeitos livres dependentes de suas próprias vontades, ainda que estejam em comunidade. No entanto, ressalta que para a formação da individualidade existe alguma vontade comum, que pode ser o espírito de família ou algo semelhante a ele. Enquanto vontade própria de uma comunidade, deve haver a compreensão, ou seja, sentimentos recíprocos associados que representa a força social a associar os homens enquanto membros de um todo.
As raízes de todas as relações (associações) são compostas primeiramente pelos laços de sangue, em segundo lugar, pela aproximação dos indivíduos no espaço e finalmente na aproximação espiritual entre eles. A língua é um fator importante, pois aproxima e une os sentimentos humanos e possibilita a formação de grupos. A partir desses grupos e suas modificaçoes, formam-se os complexos determinados pelo solo: país, província e aldeia. A cidade, por sua vez, desenvolve-se e encontra seu acabamento num espírito comum que lhe mantém a coesão. É nela que se formam a associação do trabalho, a corporação e a comunidde religiosa, que  é, segundo Tönnies,     a última e mais alta manifestação da qual a ideia de comunidade é capaz.  As diferentes formações aqui expostas, provêm da família.
Em contrapartida ao que entende-se por comunidade, e de acordo com a teoria da sociedade, esta última é definida pelo referido autor como um grupo de homens que vivendo próximos uns aos outros, como na comunidade, não estão organicamente unidos, mas sim organicamente separados, apesar de toda ligação que há entre eles. Na sociedade, há a predominância da individualidade, vive-se em  constante estado de tensão com relação aos outros e as interações humanas são baseadas principalmente na troca, de modo que ninguém deseja conceder algo ao outro, a não ser em troca de alguma retribuição equivalente à sua concessão. As ações de doação e do recebimento devem conter implicitamente uma vontade social, de modo que ambas devam coincidir no tempo. Na sociedade, não existe bem comum.
A vontade comum expressa na troca, na medida em que esta última é considerada como um ato social, chama-se contrato, resultante de vontades divergentes que se cruzam em algum ponto. Cada troca realizada na sociedade é considerda como geradora de obrigação. A capacidade de determinada pessoa em concluir contratos e obrigações, faz com que possa ser considerada objetiva, na medida em que a sociedade parece participar dela e consequentemente confirmar nela sua existência. Assim, ela se torna sujeito da sociedade. Sendo que cada pessoa busca na sociedade sua própria vantagem, a relação de todos para com todos pode ser compreendida, ainda que fora de cada contrato ou convenção, como uma hostilidade ou como uma guerra latente. Compradores e vendedores situam-se sempre e tal maneira que cada um deseja obter o máximo do bem do outro, com o mínimo de prejuízo possível. Por fim, a perda de um é ao mesmo tempo o ganho do outro. Isso é a concorrência geral, que ocorre em diversos domínios, mas mais claramente no comércio e consequentemente, na cidade grande, onde nota-se a intensificação do comércio.

Segunda Questão
A cultura moderna desenvolve-se rumo a preponderância do objetivo sobre o subjetivo, enquanto o desenvolvimento espiritual dos sujeitos se dá de forma lenta ou desigual, quando comparado ao da cultura objetiva. A divisão do trabalho, por sua vez, exige do singular uma realização unilateral, atrofiando a personalidade do indivíduo, que encontra-se cada vez mais incapacitado de se sobrepor à cultura objetiva.
Em meio a sociedade moderna e a divisão do trabalho, a subjetividade deu lugar a objetividade. A cultura individual foi atrofiada mediante a hipertrofia da cultura objetiva.  O indivíduo da  grande cidade que é tipicamente voltada para um caráter de diposição desigual entre as culturas, tornou-se apenas uma partícula da organização gigantesca que gradualmente lhe subtraiu espiritualidades e valores. Assim, o espírito tornou-se impessoal e a personalidade não teve forças para se contrapor a isso.
O dinheiro, que segundo Georg Simmel pode ser considerado como o “deus da modernidade”, rege todos os trâmites da cidade grande com sua superficialidade característica. Além disso, seria o responsável por ter  transformado tudo em abstração, de modo que as pessoas comprem e comparem coisas de acordo com a lógica contábil enquanto estabelecem relações superficiais entre si, visando sempre o interesse próprio. Aqui, cada indivíduo pode ser considerado comprador e comerciante.
A vida na cidade funciona como uma máquina, onde os indivíduos são responsáveis por fazê-la funcionar,  já que todos estão imersos nesse sistema de trocas, de divisão do trabalho e vivem de acordo com o relógio, pois a  técnica da vida na cidade grande não é concebível sem que todas as atividades tenham sido ordenadas em um esquema temporal fixo.
Imersos num sistema essencialmente racional, objetivo, contábil, pontual e técnico os indivíduos, cujo espírito não consegue sobrepor-se às características do espaço, tornam-se também racionais, objetivos, contábeis, pontuais e técnicos. Dessa forma, seus nervos, extremamente estimulados pelo meio, tendem a não reagirem mais de forma adequada a estímulos do meio, configurando por fim o que Simmel chamou de “caráter blasé”, fenômeno anímico reservado de modo incondicional à cidade grande.


Terceira Questão

De acordo com Gerog Simmel, o caráter blasé é um fenômeno anímico reservado principalmente à cidade grande e surge inicialmente como consequência da pressão do meio sobre os estímulos nervosos, a partir dos quais parece provir também a intensificação da intelectualidade. Há duas situações fisiológicas que podem contribuir para o caráter blasé: uma vida desmedida de prazeres e o estímulo das impressões inofensivas que mediante a rapidez de sua mudança, extraem dos nervos sua força. Assim, a incapacidade de reagir aos novos estímulos com o montante adequado de energia pode ser definida como caráter blasé, que, segundo Simmel, atinge todo filho da cidade grande por esta última exigir tanto de seus estímulos que o indivíduo torna-se incapaz de responder adequadamente a eles.  Diante da atitude blasé, o indivíduo percebe o significado e o valor das coisas como nulos, ou seja, não se atem a pequenas distinções, torna-se indiferente. Essa disposição anímica é um reflexo da economia monetária na medida em que o dinheiro compensa de modo igual toda a pluralidade das coisas, exprime todas as distinções qualitativas entre elas mediante o fator quantitativo e consequentemente corrói o núcleo das coisas e sua imcomparabilidade. Logo, a cidade grande, enquanto centro de circulação de dinheiro, é também onde o caráter blasé impera absoluto.
Em suma, enquanto os habitantes das grandes cidades são pressionados pelo ambiente a estimularem ao máximo seus nervos, consequentemente tornado-os incapazes de responderem adequadamente a estímulos, há a intensa presença da economia social. Esses fatores comprimem homens e coisas, fazem com que os nervos acomodem-se aos conteúdos e à forma da vida na cidade grande, valorizando certas naturezas sob o preço de desvalorizar o mundo objetivo, culminando no que Simmel chamou de atitude blasé.



Quarta Questão
De acordo com Simmel, a forma estrangeiro condiz com alguém que fixo em determinado raio espacial, é considerado análogo ao espaço devido a transfronteirização que carrega consigo. Possui uma característica espacial daquele que trafega. Em outras palavras, o estrangeiro é aquele que estando em determinado local não pertence a ele e suas qualidades não provém dele e nem nele andentram. É o estranho, um outro, não proprietário do solo. Seu caráter simbólico parece aproxima-lo do comércio, já que apenas o comércio permite combinações ilimitadas e propõe maior acolhemimento do que a produção primária. Simmel acrescenta ainda que a história dos judeus europeus é um exemplo clássico deste processo onde estrangeiros trabalham no comércio.
Ainda que membro de determinado grupo, o estrangeiro é considerado como alguém de fora. Assim, as relações se dão por um certo distanciamento pois os demais membros do grupo levam em consideração o fato de o estrangeiro ser também membro de outro determinando grupo estranho a eles. Portanto, os contatos para com o estrangeiro são estreitos e remotos, fruto da atribuição que se faz a referida forma (estrangeiro) como absolutamente móvel e não vinculada organicamente a nada e a ninguém, ainda que possa manter contato específico com os demais.
O estrangeiro, sendo o estranho ao grupo, é visto pelos outros como um não pertencente, ainda que seja membro orgânico do grupo. O autor ressalta também, que por estar em posição de proximidade ao mesmo tempo que de distanciamento, o estrangeiro pode ser o mais apto a analisar e julgar determinada situação. É importante ressaltar também, que em situações conflitantes a forma estrangeiro surge como uma problemática em potencial, por ser caracterizada como estranha ao grupo e consequentemente contribuir para a construção social do estrangeiro como inimigo.

Referências bibliográficas
SIMMEL, Georg. As grandes cidades e a vida do espírito [orig. al. 1903]. Trad. L. Waizbort. Mana, vol.11 no.2. Rio de Janeiro. 2005.
SIMMEL, Georg. “O estrangeiro”. In: Soziologie. Untersuchungen über die Formen der Vergesellschaftung (Sociologia. Estudos sobre as formas de sociação). Berlim: Duncker e Humblot Editores, 1908.
TÖNNIES, Ferdinand. “Comunidade e Sociedade como entidades típico-ideais” . In: FERNANDES, Florestan. Comunidade e Sociedade. São Paulo: Companhia Editorial Nacional, 1973.