segunda-feira, 1 de abril de 2013

O portão e a janela

Ela me acordou e abriu a janela. Me abraçou. Desejei boa aula e ela respondeu: "para você, bom trabalho...quer dizer, boa aula também...os dois".
Desceu as escadas. Trancou a porta, girando duas vezes a chave dentro da fechadura. Desceu os degraus carregando a mochila pesada. Olhou pra cima para ver se eu realmente ia observá-la pela janela. Sorriu ao me ver, e isso meus olhos míopes conseguiram perceber. Foi caminhando pela vila carregando a mochila, que rodava pelo chão fazendo um barulhinho. Parou no portão. Olhou pra trás, certificando-se se eu ainda estava na janela. Sorriu outra vez. Olhava para fora. Olhava para trás, para mim. Eu acenava, ela retribuía. Acenei outra vez, ela achou que eu a estivesse chamando, eu não estava, mas ela veio correndo pra baixo da janela e perguntou o que eu queria dizer. Eu inventei qualquer resposta, pois não consegui dizer a ela que na verdade aquele gesto era apenas um "até logo", então respondi: "é que eu preciso pegar os óculos, porque não estou te enxergando lá longe. Espera aí, que eu já volto."
Procurei os óculos rapidamente para não deixá-la sozinha lá embaixo da janela, porém, não os encontrei. Ela sequer questionou. Quando retornei à janela, ela simplesmente voltou correndo pra perto do portão. 
Continuei forçando a vista para conferir que ela estava realmente em segurança. O carro chegou. Ela saiu pelo portão e entrou lá dentro. Não lembro dela ter acenado. Talvez fosse culpa da miopia. Vazio.

Nenhum comentário:

Postar um comentário